Parte dessa diversidade depende do budião. Ele é conhecido como o jardineiro dos mares. Herbívoro, se alimenta de algas e ajuda a mantê-las sob controle em recifes e costões, permitindo que outros peixes e criaturas marinhas se estabeleçam.

De hábitos sedentários para um peixe, ele costuma viver sempre junto ao seu jardim. Esse hábito o torna presa fácil da pesca de arpão.

A denominação budião, na verdade, é usada para designar popularmente nove espécies semelhantes. Em comum, o tamanho (chegam a um metro) e a beleza.

Pesca predatória

Ele é também um dos mais cobiçados por sua carne. A pesca está proibida, mas isso não tem inibido a prática.

O estudo para salvar a espécie faz parte do Projeto de Apoio à Pesquisa Marinha e Pesqueira no Rio de Janeiro, financiado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).

— Temos uma janela de tempo estreita para evitar que ele desapareça de vez. Hoje, não se encontram mais animais maiores e mais velhos, como há cerca de 20 anos. A pesca predatória impede isso — explica o coordenador do subprojeto Costão Rochoso, Carlos Eduardo Ferreira Leite, da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Ele também afirma que Arraial é estratégica para a preservação do peixe porque, além da pesca, há um intenso e crescente turismo.

— Por não ter manejo, o turismo se torna predatório e causa danos severos à biodiversidade e aos serviços que ela nos presta — diz Leite.

O subprojeto que ele coordena tem pesquisadores das universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Rio Grande (Furg), além da Unicamp. Os estudos se concentram na Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo e a meta é oferecer informações para o uso sustentável dos recursos pesqueiros da região.

Acompanhar peixes não é trivial. Principalmente quando eles têm hábitos noturnos, como o budião-azul.

Para capturá-los e acoplar o transmissor de dados por telemetria, os cientistas precisam mergulhar à noite. Cada transmissor custa US$ 300, e não há margem para erros.

Os animais são capturados com puçás, operados no barco da equipe e devolvidos ao mar. Sessenta peixes já estão sendo acompanhados. A meta é não só conhecer seus hábitos como fazer um censo e o zoneamento das áreas estratégicas.

— O zoneamento, com manejo do uso por turismo e pesca, pode salvar o budião — afirma Leite.

Fonte: Portal Jornal O Globo  –  4/8/2019.

Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/chip-com-gps-esperanca-para-salvar-budiao-azul-23853218