A Mata Atlântica é o bioma brasileiro em que a fauna e a flora estão mais ameaçadas de extinção. Das espécies avaliadas, 1.989, o equivalente a 25%, estão incluídas nessa categoria.
Os dados são da pesquisa “Contas de Ecossistemas: Espécies ameaçadas de extinção”, divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo analisou as listas de espécies nacionais oficiais de 2014 e as avaliações sobre a sua conservação, publicadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e pelo Centro Nacional de Conservação da Flora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (CNCFlora/JBRJ).
O bioma se espalha por 17 estados brasileiros, mas está concentrada principalmente no litoral: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Sergipe.
De acordo com o IBGE, atualmente são reconhecidas no Brasil 49.168 espécies de plantas e 117.096 de animais. A pesquisa analisou 4.617 espécies da flora e 12.262 espécies da fauna para as quais existem informações sobre seu estado de conservação. Elas representam, respectivamente, 11% e 10% do total.
Entre as espécies avaliadas, cerca de 20% (3.299) estão ameaçadas de extinção. Além disso, ao menos dez espécies de animais já estão extintas: seis aves, um anfíbio, um mamífero e dois peixes marinhos. Uma espécie de ave está extinta na natureza, ou seja, depende de programas de reprodução em cativeiro.
Leonardo Bergamini, gerente de Recursos Naturais e Estudos Ambientais do IBGE e coordenador técnico da pesquisa, explica que o risco de extinção das espécies reflete um processo demorado.
— Existe um tempo de resposta entre os impactos e ameaças, até isso levar a extinção. No caso da Mata Atlântica, como é no litoral, é onde foi ocupado primeiro. Essa grande proporção de espécies ameaçadas reflete muito isso, é um processo de ocupação antigo, houve perda de áreas grandes da área natural — explica, e acrescenta: — Também é um bioma que possui muitas espécies endêmicas, que só são encontradas ali, então elas são ainda mais sensíveis a esse tipo de impacto.
O estudo analisou a conservação das espécies em cada bioma brasileiro. Depois da Mata Atlântica, o Cerrado concentra a maior quantidade de espécies ameaçadas, com 1.061, o equivalente a cerca de 20% do total.
Em seguida vem a Caatinga (366 espécies, ou 18%). O Pampa apresenta um número de espécies ameaçadas menor (194), mas com proporção semelhante (14,5%).
O Pantanal e a Amazônia são os biomas com maiores proporções de espécies na categoria menos preocupante e também com o menor percentual de espécies consideradas ameaçadas (aproximadamente 4% e 5%), com o total de 54 e 278, respectivamente.
A pesquisa realizou também uma análise da fauna e flora brasileira de acordo com sua ocorrência nos diferentes tipos de ambiente: terrestre, de água doce e marinho.
Bergamini afirma que o ecossistema terrestre foi o que registrou maiores impactos. Mas ressalta que as espécies terrestres são mais fáceis de estudar do que as aquáticas, então em geral há mais informação sobre elas, o que pode influenciar o tipo de padrão observado. Considerando a fauna nesse ambiente, a maior proporção de espécies ameaçadas se encontra nas ilhas oceânicas, com 30, ou 38,5% do total de espécies terrestres no mar e ilhas.
Sobre a flora terrestre, a Mata Atlântica se destaca com um grande número e proporção de espécies vegetais ameaçadas. O Cerrado, Pampa e Caatinga também apresentam altas proporções. De acordo com o estudo, esses valores refletem principalmente os ambientes de maior altitude da Mata Atlântica e das chapadas do Cerrado e da Caatinga.
“Nesses compartimentos de relevo, são encontradas muitas plantas endêmicas, que ocorrem exclusivamente nessas áreas, em ambientes muito sensíveis a distúrbios ambientais e de difícil regeneração”, explicam os autores.
A pesquisa apresenta também mapas-síntese das informações sobre a distribuição das espécies ameaçadas no território nacional. De acordo com o estudo, a conservação de espécies ameaçadas em áreas com alto grau de ação humana, como na região centro-sul do Cerrado e no oeste da Mata Atlântica, por exemplo, depende de iniciativas de restauração e incremento da conectividade.
“Por outro lado, locais com grande riqueza de espécies ameaçadas em amplas áreas naturais, como é o caso da região próxima ao ‘arco do povoamento’ na Amazônia, em áreas do Matopiba no Cerrado, e no sul da Caatinga, são bons candidatos para implementação de medidas preventivas, como criação de unidades de conservação ou maiores investimentos nas já existentes”, informa a pesquisa.
A Matopiba foi o nome dado a uma região de nova fronteira agrícola e intenso desmatamento ilegal, distribuída pelos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
— Essa primeira edição do trabalho tem o propósito de demonstrar a aplicabilidade da metodologia e fazer uma síntese de dados que já existem de 2014, de modo a facilitar, quando saírem as atualizações, a fazer a aplicação da metodologia com dados em dois períodos — destaca Bergamini. — Em longo prazo, a ideia é integrar tudo isso com informações sobre o valor desses ecossistemas.
Fonte: Jornal Extra – 5/11/2020 –
Estagiária Raphaela Ramos sob orientação de Flavia Martin
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