Leopardo negro africano é fotografado pela primeira vez em mais de um século.

No entanto, coube ao brasileiro Lucas Gonçalves, especialista em grandes carnívoros, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), descobrir o primeiro registro de uma pele negra de leopardo. Foi em 2013, como parte de seus estudos de doutorado, quando era professor visitante do Museu Nacional de História Natural de Washington. Segundo ele, a pele é de uma coleção de 1909, proveniente da Etiópia.

A existência de leopardos negros na África sempre intrigou pesquisadores. A pelugem negra sobre as pintas em nada ajuda animais que vivem nas savanas, em campo aberto, e precisam espreitar a caça.

De acordo com Gonçalves, o mistério dos leopardos negros africanos começou a se desvendado pela pesquisadora Alessandra Schneider, que em 2012 descobriu a mutação recessiva que provocava o melanismo nestes felinos.

— Ficamos felizes em ver que nossos estudos biogeográficos previam a ocorrência de leopardos negros na área em foram encontrados pelos pesquisadores — afirma Gonçalves.

Animal extremamente raro, o leopardo negro africano tem sido, há décadas, protagonista de várias lendas contadas em países como Quênia e Etiópia, na África. Mas pouquíssimas são as pessoas que já o viram. A única evidência fotográfica desse tipo de leopardo data de 1909, em um clique feito em Addis Abeba, na Etiópia. Até agora. Porque esta semana um fotógrafo britânico especializado em vida selvagem se tornou a primeira pessoa a fotografar o leopardo negro em mais de um século.

Quando Nick Pilfold, cientista de conservação do zoológico de San Diego, nos Estados Unidos, e o fotógrafo britânico de natureza Burrard-Lucas, esconderam câmeras nas florestas selvagens de Naikipia, no Quênia, eles sonhavam com um golpe de sorte: flagrar o raro leopardo negro africano, fotografado pela primeira vez na Etiópia, em 1909.

E conseguiram. Uma jovem fêmea foi observada em cinco diferentes momentos entre fevereiro e abril de 2018 na reserva natural  Loisaba Conservancy. Quatro dos cinco vídeos foram capturados à noite com iluminação infravermelha.

Embora tenha havido relatos de avistamentos desses animais, que também são conhecidos como panteras negras, não havia confirmação científica nem evidência fotográfica para embasar esse conhecimento no último século. O registro raro foi publicado no Jornal Africano de Ecologia.

Diferentemente dos grandes felinos com pintas (como a onça-pintada das Américas), a coloração da “pantera negra” vem de um excesso de melanina no pelo do animal, de modo que ele pareça preto. Segundos os cientistas, apesar disso, os padrões de roseta desses animais (manchas características que funcionam como um “RG”) são visíveis em imagens noturnas de infravermelho.

“Para mim, não há nenhum animal envolto em mais mistério, nenhum animal mais evasivo e nenhum animal mais bonito que os leopardos negros”, postou Burrard-Lucas em seu blog. “Por muitos anos eles permaneceram como o material dos sonhos e das histórias improvisadas contadas ao redor da fogueira à noite. Ninguém que eu conheça já tinha visto um em estado selvagem e eu nunca pensei que veria”.

Ameaçados

Leopardos negros são descritos como criticamente ameaçados na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza, o que torna o feito ainda mais relevante.

Os grandes felinos, como outros animais carnívoros, ocupam o topo da cadeia alimentar e têm um papel fundamental no equilíbrio dos ecossistemas, pois atuam na regulação do tamanho populacional de outras espécies animais.

Sua sobrevivência depende de áreas extensas e com hábitat de boa qualidade, um cenário ideal difícil de encontrar, a julgar pela situação de ameaça desses animais. Caça, perda de habitat e conflitos agrários ligados à agropecuária puxam o declínio populacional dos grandes felinos.

“Coincidentemente, nossas observações estão muito próximas da situação de fantasia do país da Marvel, Wakanda”, disse ele à CNN. Ameaçado pelo mundo exterior, Wakanda é um país fictício localizado na África subsariana, que ganhou grande notoriedade ao aparecer no filme de 2018 Pantera Negra.

Daí a importância de políticas públicas voltadas à conservação da biodiversidade. Pilfold, do Zoológico de San Diego, trabalha com parceiros locais africanos, incluindo o Serviço de Vida Selvagem do Quênia, para monitorar as populações de leopardos na área e ajudar a preservar as espécies.

Fontes: Revista Exame – 14/2/2019   e   African Journal of Ecology – jan/2019.

Veja o vídeo com o leopardo negro no meu Canal do YouTube: basta clicar no link da página principal do site, no alto, à direita.

Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/aje.12586?fbclid=IwAR1rofvKb5W6zlOFUsru_qkiXgDw2nnXKl-2DSV7K_oQpLUKSF74mlgDlvs

Mítica “pantera negra” é fotografada pela 1ª vez em 100 anos na África

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