Todo mundo sabe o quanto é difícil e dolorido tomar a decisão de sacrificar nossos peludos ou um outro animal qualquer. Passei por isso há quase três meses, e só quem viveu essa situação sabe o que significa induzir à morte o ser que amamos tanto.

Falar dessa história é sempre muito dolorido para mim. Mas, o assunto do qual vou tratar nesse post é tão importante que não vou me privar dessa tristeza: a leishmaniose visceral em cães, uma zoonose transmitida pela picada do mosquito Lutzomyia longipalpis(conhecido por Mosquito Palha, Birigui ou Flebótomo) contaminado. É uma doença que mata se não for tratada.

E o que tem a ver a doença com morte induzida? Tudo. É que o procedimento era o indicado para os cães do Brasil acometidos pela doença porque aqui, até uns dias atrás, era proibido tratar o problema de acordo com Portaria Interministerial 1.426 de 11 de Julho de 2008. E o veterinário que agir ao contrário pode ser punido. Tudo bem que zoonose é um problema de saúde pública, mas não entendo tratarem do problema matando nossos peludos ao invés de criarem um método eficaz de erradicação do mosquito.

E essa discussão veio à tona há alguns dias quando o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento e do Ministério da Saúde liberou uma medicação para seu tratamento. Trata-se do Milteforan, da empresa Virbac Saúde Animal (indústria farmacêutica francesa dedicada exclusivamente à saúde animal) indicado para o tratamento do problema.

A ação foi comemorada por alguns e questionada por outros. Há motivos para comemorar sim, mas também há um porém: a medicação ainda não está disponível no Brasil. A assessoria de imprensa da Virbac Saúde Animal informou que o produto está previsto para ser lançado oficialmente no início de 2017. Até lá, como ficam os cães que contraíram a leishmaniose?

A liberação do medicamento também não trata de seu uso como uma medida de saúde pública para o controle da doença deixando a escolha do tratamento a cargo do tutor do animal e muito menos determina prazo para a distribuição do remédio.

E são essas questões que que a Comissão de Proteção e Defesa dos Animais da OAB do Rio de Janeiro (CPDA/OAB) vai discutir nesta segunda-feira, às 17h, no seminário ‘Leishmaniose: tratar e não matar’. O encontro acontecerá no plenário da OAB, na Av. Marechal Câmara 150/4° andar, Centro. O evento tem entrada gratuita e será transmitido ao vivo pelo Google ou no You Tube pela TV OAB RJ.

Tenho recebido relatos de que a orientação de um modo geral é matar, mesmo que após os testes não se encontrem o parasita. O parâmetro é de que basta apenas encontrar os anticorpos. Um absurdo. Estes senhores dos ministérios não são os senhores da morte. O governo deveria investir na prevenção, no combate ao mosquito palha, e não disseminar a matança dos cães”, disse o presidente da CPDA/OAB), Reynaldo Velloso.

Além dele, participam do seminário o presidente da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa) Rogério Lobo; diretor do Instituto Jorge Vaitsman Gil Vicente; e os especialistas Fábio da Fonseca, Luis Claudio Abboud, Rebeka Curi e Daniela Figueiredo. Os participantes receberão certificados de participação e comparecimento. A Comissão já está agendando outro debate sobre o tema para o dia 5 de dezembro.

As leishmanioses são um conjunto de doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania e da família Trypanosomatidae. De modo geral, essas enfermidades se dividem em leishmaniose tegumentar americana, que ataca a pele e as mucosas, e leishmaniose visceral (ou calazar), que ataca órgãos internos.

Transmissão

A leishmânia é transmitida ao homem (e também a outras espécies de mamíferos) por insetos vetores ou transmissores, conhecidos como flebotomíneos. A transmissão acontece quando uma fêmea infectada de flebotomíneo passa o protozoário a uma vítima sem a infecção, enquanto se alimenta de seu sangue. Tais vítimas, além do homem, são vários mamíferos silvestres (como a preguiça, o gambá, roedores, canídeos) e domésticos (cão, cavalo etc.).

Os flebotomíneos são insetos pequenos, de cor amarelada e pertencem à ordem Diptera, mesmo grupo das moscas, mosquitos, borrachudos e maruins; apresentam um par de asas e um par de pequenas estruturas, chamados de halteres ou balancins, responsáveis pela estabilidade do voo e o zumbido característico dos dípteros. No Brasil, esses insetos podem ser conhecidos por diferentes nomes de acordo com sua ocorrência geográfica, como tatuquira, mosquito palha, asa dura, asa branca, cangalhinha, birigui, anjinho, entre outros.

Sintomas

A diversidade de espécies de Leishmania, associada à capacidade de resposta imunitária de cada indivíduo à infecção, está relacionada com as várias formas clínicas das leishmanioses. As leishmanioses tegumentares causam lesões na pele, mais comumente ulcerações e, em casos mais graves (leishmaniose mucosa), atacam as mucosas do nariz e da boca. Já a leishmaniose visceral, como o próprio nome indica, afeta as vísceras (ou órgãos internos), sobretudo fígado, baço, gânglios linfáticos e medula óssea, podendo levar à morte quando não tratada. Os sintomas incluem febre, emagrecimento, anemia, aumento do fígado e do baço, hemorragias e imunodeficiência. Doenças causadas por bactérias (principalmente pneumonias) ou manifestações hemorrágicas são as causas mais frequentes de morte nos casos de leishmaniose visceral, especialmente em crianças.

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico parasitológico é feito através da demonstração do parasito por exame direto ou cultivo de material obtido dos tecidos infectados (medula óssea, pele ou mucosas da face) por aspiração, biópsia ou raspado das lesões. Para o diagnóstico, há também métodos imunológicos que avaliam a resposta de células do sistema imunitário e a presença de anticorpos anti-Leishmania. Nesta categoria se incluem o teste cutâneo de Montenegro e testes sorológicos (exame de sangue), dos quais os mais utilizados são os ensaios de imunofluorescência indireta e o imunoenzimático (ELISA). Nem o teste de Montenegro nem os métodos sorológicos positivos significam doença. Indicam infecção por Leishmania, que pode ser atual ou passada. Há também os métodos moleculares (PCR) que detectam a presença de ácidos nucleicos do parasito. Os elementos clínicos e epidemiológicos também contribuem substancialmente para o diagnóstico.

Para todas as formas de leishmaniose, o tratamento de primeira linha no Brasil se faz por meio do antimoniato de meglumina (Glucantime). Outras drogas, utilizadas como segunda escolha, são a anfotericina B e a pentamidina. Todas estas drogas têm toxicidade considerável.

Prevenção

Não há vacina contra as leishmanioses humanas. As medidas mais utilizadas para o combate da enfermidade se baseiam no controle de vetores e dos reservatórios, proteção individual, diagnóstico precoce e tratamento dos doentes, manejo ambiental e educação em saúde. Há vacinas contra a leishmaniose visceral canina licenciadas no Brasil e na Europa. O cão doméstico é considerado o reservatório epidemiologicamente mais importante para a leishmaniose visceral americana, mas o Ministério da Saúde do Brasil não adota a vacinação canina como medida de controle da leishmaniose visceral humana.

Devido ao diminuto tamanho, o encontro de larvas e pupas de flebotomíneos na natureza é tarefa extremamente difícil, por essa razão não há nenhuma medida de controle de vetores que contemple as fases imaturas.

As medidas de proteção preconizadas consistem basicamente em diminuir o contato direto entre humanos e os flebotomíneos. Nessas situações as orientações são o uso de repelentes, evitar os horários e ambientes onde esses vetores possam ter atividade, a utilização de mosquiteiros de tela fina e, dentro do possível, a colocação de telas de proteção nas janelas. Outras medidas importantes são manter sempre limpas as áreas próximas às residências e os abrigos de animais domésticos; realizar podas periódicas nas árvores para que não se criem os ambientes sombreados; além de não acumular lixo orgânico, objetivando evitar a presença mamíferos comensais próximos às residências, como marsupiais e roedores, que são prováveis fontes de infecção para os flebotomíneos.

Fonte: Portal ANDA – 26/9/2016.

Disponível em: https://www.anda.jor.br/2016/09/leishmaniose-tratar-e-nao-matar-e-o-tema-de-seminario-da-oab-nesta-segunda/